domingo, 23 de setembro de 2007

Que teias o "império" tece?



Sobre o "caso Maddie", já ouvi falar de quase tudo, e tudo muito esmiuçado, ao pormenor. Desde o rapto à rede de pedofilia, desde o dolo eventual ao ADN, desde os cães que farejam cadáveres aos soporíferos que supostamente foram administrados. Quase tudo foi, e é ainda, examinado à lupa, embora nem sempre satisfatoriamente. Contudo, houve algumas coisas que ainda ninguém explicou bem. Por exemplo: é Gerry McCann amigo pessoal do primeiro-ministro inglês Gordon Brown? Apenas o Público, no sábado passado, e o director deste jornal, ontem, referiram esse facto de passagem. Mas, ninguém passou da superfície. Porquê? Porque é que até agora ainda não houve nenhum jornal, português ou inglês, nem nenhuma televisão, portuguesa ou inglesa, que nos explicasse qual a natureza dessa relação de amizade, e até que ponto ela é forte?

É que isso pode ser bastante importante para perceber porque é que o "caso Maddie" tomou as dimensões que tomou, em Inglaterra, em Portugal e no resto do mundo. À medida que o processo vai avançando, e a investigação aponta na direcção da morte da menina, sendo os pais cada vez mais suspeitos, o que vamos descobrindo é que podemos ter assistido à maior e mais sofisticada operação de marketing fraudulenta de todos os tempos, destinada a convencer-nos a todos de que a criança tinha sido raptada.

Ora, e esse é o meu argumento hoje, será que a colossal dimensão dessa operação de marketing foi possível apenas porque Gerry é amigo de Gordon Brown? Ou, por outras palavras, houve um envolvimento directo da Downing Street nesta monumental mistificação planetária? Infelizmente, tudo indica que sim.

Desde os primeiros dias que houve intervenção de Gordon Brown, que logo na primeira semana disse que "o Governo inglês iria pressionar as autoridades portuguesas para resolver o caso". Depois, avançou para Portugal a cavalaria. Um dos maiores especialistas de marketing político inglês - conhecidos com 'spin doctors' - veio para a Praia da Luz dirigir as operações, e a campanha mediática do "Find Madeleine" arrancou a todo o vapor. 'Site' na net, angariação de fundos por todo o mundo, celebridades mundiais "empenhadas na causa", idas a Fátima rezar, viagens pela Europa, conversas com ministros espanhóis e não só, idas diárias à Igreja da Luz, declarações contidas dos pais, e por fim, a cereja em cima do bolo, uma audiência com Sua Santidade, Bento XVI. Um verdadeiro 'blitzkrieg' mediático, como nunca houve, nem provavelmente virá a haver tão cedo.
Mas, será isto normal? Quer dizer, será isto possível sem uma intervenção poderosa do governo inglês? A resposta é, obviamente, não. Nenhum casal teria conseguido tanta coisa em tão pouco tempo se não estivesse a ser activamente ajudado pelas mais altas esferas inglesas. Para ser recebido pelo Papa, para falar com ministros, para ter a imprensa inglesa sempre aos pés, solidária e fiel como um dócil cãozinho, é preciso poder. E esse poder só pode ter vindo directamente de Gordon Brown. Como, não sei, mas só assim se explica que existam tantos "acessores de imprensa" ou de "imagem" à volta dos McCann, e todos eles com ligações directas ao gabinete de Brown. Só assim se explica que um casal, aparentemente anónimo e de classe média, tenha tratamento VIP nos aeroportos, nas chancelarias e na imprensa. E é espantoso que, quatro meses e tal depois do início do caso, ainda estas questões não tenham sido levantadas em público.
Até porque, e à medida que a investigação vai avançando na direcção da culpabilidade dos pais, esta situação começa a ser cada vez mais grave e duvidosa. Já viram o que será se se prova que a Downing Street foi colossalmente enganada por um amigo de Brown ? Já viram o que será se se prova que uma mega-campanha mundial arquitectada directa ou indirectamente pelo primeiro-ministro inglês se revela a maior fraude deste início de século? O "caso Maddie", de história criminal fascinante, passaria a ser um gravíssimo assunto político para a Inglaterra...

Domingos Amaral, Director da revista "Maxmen"

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