" Há uma guerra remota, feroz, indescritível e indemonstrável, que funda a nossa consciência e assombra o nosso imaginário.(...) Que Tróia existiu, provaram-no as pesquisas arqueológicas de Heinrich Schliemann, no último quartel do século XIX.Tróia, a guerra que nunca foi, entrou pela linguagem que usamos com demolidora sobranceria.É o cavalo de Tróia, o calcanhar de Aquiles, a bela Helena. Por dá cá aquela palha arde Tróia; um acto de sedução é o canto das sereias; e há sempre quem procura agradar a gregos e troianos. Na nossa mitologia regional da fundação, é Ulisses o herói maior que "inventa" Lisboa. (...)Três milénios de guerras não chegaram para inventar nenhuma história mais bela, mais rica, mais exaltante do que a guerra de Tróia. Essa guerra não terá existido, mas deu origem a dois monumentos literários que fundam uma civilização (a Ilíada, que se encerra sobre a morte de Aquiles e a Odisseia, com Ulisses, o último dos heróis e o primeiro dos homens, prisioneiro de Calipso no início da seu regresso a Ítaca). As guerras que hoje se preparam poderão não dar origem a nada - a não ser ao registo desolado da catastrófica disposição da natureza humana. Seremos, por causa delas, os últimos dos homens; e nenhum de nós passará à história como o primenro dos heróis."
Encontrei hoje,quando fazia uma limpeza a um armário da sala 5, uma crónica de José Mega Ferreira com o título " A guerra que não foi", publicada na Visão, em Outubro de 2002. Não resisti a deixar aqui este pequeno excerto. Achei-a muito interessante. Que o autor me perdoe os "cortes" feitos apenas por razões práticas que não por censura.
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