Foi o que fiz hoje à tarde enquanto descansava da nossa ida à baixa. Há muitos meses que não íamos tomar café, no Nicola, ao sábado de manhã...Depois que mudámos para esta vilazinha tão tranquila concedi-me o prazer de não andar enredada no trânsito citadino, nos seus inevitáveis semáforos, múltiplas faixas (que só me confundem) e milhentas rotundas plantadas" por toda a cidade.
E daí o choque!
Em alguns meses, a Valentim de Carvalho passou a imobiliária, a Benetton é agora uma loja com péssimo aspecto, onde, a julgar pelo que estava exposto nas montras e pendurado nas portas, é tudo de qualidade duvidosa (e gosto mais duvidoso ainda); a antiga "Brasileira", já há uns anos tinha sido convertida em loja de roupa de senhora de boa marca, vai ser convertida em qualquer outra coisa de certeza. Já está em" liquidação total". Lá chegámos ao Nicola, tomámos café e mais nada: as velhas "parras" já eram! Ao sair, fui dar uma beijoca ao Frederico que estava na esplanada e foi aí que comecei a achar que, em frente,alguma coisa não estava bem. Mas logo,logo, não percebi o que era!Onde estava a Central??? A minha Central ? A Central do Sr. Petrónio, dos meus chapeuzinhos de chuva, dos meus lápis de chocolate dos meus chupa-chupas bem gordinhos e compridos com sabor a laranja e embrulhados em papel celofane???????? A Central é agora uma loja "Pé de meia"!!!!!!!!!!!!!Não vou dizer que me ía dando " uma coisinha má" porque isso é pouco. O que senti foi uma tristeza enorme , uma saudade imensa da nossa baixa antiga, uma tremenda melancolia que me ficou para o resto do dia e ainda cá está, caso contrário não estava aqui a postar este desabafo. E depois lembrei-me do "Arcádia" (e das melhores torradinhas que se comiam nesta cidade), do velho " Montanha" e da sua esplanada bem em frente à paragem dos eléctricos, onde um senhor coronel tinha a mania de me assustar perguntando à mãe ou à madrinha (com cara de poucos amigos, para me impressionar ainda mais) se eu me tinha portado bem e se tinha comido tudo! Eu, que até era uma menina sempre bem "portadinha", ficava sempre muito incomodada com aquilo, mas respondia-lhe educadamente que sim e as mães-madrinhas confirmavam, felizmente. Se alguém se atrevesse hoje a fazer este tipo de brincadeira com um filho alheio era olhado por cima do ombro pelos pais tipo: que é que este tipo tem que se meter com o meu filho???e na melhor das hipóteses levava um pontapé da criancinha ou ouvia um palavrão daqueles que eu e quase todos os meninos dos anos 50 nem sonhávamos que existiam. Também me lembrei da "Riviera" onde, já mocinha, ía lanchar, todos os sábados à tarde, com o Jorge, a Né e o Luís. E da loja do Sr. Fonseca com quem se tinham estabelecido laços de amizade tão fortes que me ofereceu as minhas "fitas", mesmo quando a Praxe e a Queima estavam suspensas. E que guardo com muito carinho! E lembrei-me dos elétricos e troleys que passavam e paravam mesmo em frente do Nicola, do carisma do Carlinhos Brinca que fazia duas coisas ao mesmo tempo: vendia sapatos e derramava um imenso charme sobre todas as suas clientes: as meninas de Coimbra cujos pais podiam pagar este atendimento de primeira. ( Mas não se passava daí, bem entendido! Nós sabíamos que estávamos tratando com um sedutor inveterado e ele sabia que, com meninas de família, não podia ultrapassar os limites sem correr o risco de lhe acontecer uma coisa terrível: ter que casar!)
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